terça-feira, 24 de maio de 2011

IPT Responde | | Resistência do concreto - Téchne

O que diz a norma sobre prova e contraprova em ensaios de resistência do concreto? Quando se deve rejeitar um fornecimento de concreto? Posso acionar um terceiro laboratório em caso de desvios muito significativos entre dois ensaios?



A norma NBR 12.655 - Concreto de Cimento Portland - Preparo, Controle e Recebimento - Procedimento, aplicável a concretos de cimento Portland para estruturas moldadas no local, estruturas pré-moldadas e componentes estruturais pré-fabricados para edificações e estruturas de engenharia define todos os procedimentos relativos à preparação e ao recebimento/aprovação do concreto, incluindo critérios de amostragem, preparação, acondicionamento, ruptura dos corpos de prova e controle estatístico da resistência mecânica.
Estabelece que "o recebimento e o controle do concreto são de responsabilidade do proprietário da obra ou de seu representante", exigindo que os relatórios de ensaios de controle de materiais e da resistência do concreto fiquem permanentemente disponíveis às autoridades fiscais durante todo o tempo de construção da obra e, após a conclusão, pelo tempo previsto na legislação. A referida norma não traz nenhum item específico sobre contraprovas, nem haveria necessidade. O consumidor de concreto, bem como de qualquer outro produto, tem o direito de contestar qualquer resultado de ensaio que não lhe pareça correto, sendo recomendável que no caso da realização de ensaios de contraprova estes venham a ser realizados em instituição previamente acordada entre as partes. Ao fornecedor também compete o mesmo direito, sendo que deve ser previsto corpos de prova em excesso, que poderão vir ou não a ser ensaiados. Tal recurso é aproximadamente similar àquele previsto em diversas normas prescritivas de materiais de construção, nacionais e estrangeiras, que adotam o chamado "processo de dupla amostragem". Se o lote não for aprovado com base nos resultados da primeira amostra, parte-se para a realização de ensaios complementares.
Vale frisar que o controle da resistência do concreto baseia-se em critérios estatísticos, obtendo-se como resultados dos ensaios, e do correspondente tratamento numérico apenas um estimador da resistência do concreto aplicado na obra. A estatística nos ensina que existem os erros tipo alfa (aceitação de um lote que de fato não atendeu ao requisito mínimo especificado) e tipo beta (rejeição de um lote que atendia ao requisito mínimo especificado). No próprio conceito de resistência característica está embutido o pressuposto de que uma pequena percentagem de resultados (em geral 5%) pode estar abaixo do limite especificado no projeto e/ou na compra do concreto, aspecto que às vezes não tem sido bem interpretado por alguns consumidores de concreto. Pequenas diferenças, a menor do fck especificado, digamos até da ordem de 4% ou 5%, em geral estarão plenamente compensadas pelos coeficientes de ponderação assumidos nos projetos das estruturas de concreto, não necessitando de contraprovas ou outras providências, a não ser que o fato se repita constantemente, de forma sistemática. Para melhor entendimento das peculiaridades envolvidas no controle estatístico da resistência do concreto recomendamos leitura dos livros do professor Péricles Brasiliense Fusco e de trabalhos recentes da Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural (Abece).
Ercio Thomaz

Cetac (Centro Tecnológico do Ambiente Construído)

Nenhum comentário:

Postar um comentário