sábado, 28 de janeiro de 2012

Obra eliminou paredes do 3º andar no Edifício LIberdade - Veja.com

Funcionários ouvidos pelo site de VEJA contam que estranharam alterações feitas em um dos pavimentos do prédio. Empresa de tecnologia ocupava os dois andares em obras

Bombeiros retiram corpo dos escombros nesta manhã (26/01) do desabamento de 3 prédios no Rio de Janeiro, na noite do dia 25 de janeiro
Bombeiros retiram corpo dos escombros nesta manhã (26/01) do desabamento de 3 prédios no Rio de Janeiro, na noite do dia 25 de janeiro (Ricardo Moraes/Reuters)
“A porta do elevador abria e víamos que não havia mais paredes. Todos ficaram espantados, mas ninguém fez queixa formal. Nós nos perguntávamos como permitiram uma obra assim” (Tereza Andrade, sócia de uma empresa que ocupava o 16º andar do Edifício Liberdade)
As suspeitas de que uma obra irregular esteja ligada ao desabamento de três edifícios no centro do Rio, na noite de quarta-feira, ganharam força na tarde desta quinta-feira. Funcionários e pessoas que frequentavam o edifício Liberdade, na Av. Treze de Maio, 44, relatam que, na obra que era realizada no 3º andar, as paredes e as colunas foram removidas.
O edifício é um dos três que caíram na noite de quarta-feira. As buscas no local continuam. Os Bombeiros trabalham com uma lista de 24 desaparecidos (veja os nomes). Três corpos já foram retirados dos escombros.

Sócia de uma filial da GV Cred, prestadora de serviços da BV Financeira, Tereza Andrade disse, ao site de VEJA, que ela e colegas de trabalho estranhavam a remoção de estruturas do 3º andar, em uma intervenção que durava aproximadamente seis meses. “A porta do elevador abria e víamos que não havia mais paredes. Todos ficaram espantados, mas ninguém fez queixa formal. Nós nos perguntávamos como permitiram uma obra assim”, disse.

A sala ocupada por Tereza ficava no 16º andar. Ela estima um prejuízo de cerca de 70 mil reais, com computadores, documentos e dados de clientes. Segundo ela, a obra do 9º andar não tinha as mesmas características: parecia ser apenas uma mudança de layout do escritório.

Procurada pelo site de VEJA, a empresa Tecnologia Organizacional, que ocupava vários andares no edifício, entre eles o 3º e o 9º, emitiu a seguinte nota: “Lamentamos o desabamento do edifício Liberdade, localizado no Rio de Janeiro. Estamos acompanhando de perto o trabalho das equipes de socorro, uma vez que temos funcionários envolvidos no acidente. Assim que tivermos mais informações sobre o ocorrido iremos compartilhar com a imprensa”. A Tecnologia Operacional informa, em seu site, que ocupava o 3º, 4º, 6º, 9º, 10º e 14º andares do edifício 44 da Av. Treze de Maio. Ou seja: as duas obras realizadas no edifício tinham relação com a empresa.
Irmão de uma das vítimas do desabamento, Afonso Celso da Costa Menezes também recebeu informações sobre a obra do 3º andar. “Fiquei sabendo que existiam duas obras. Em um dos andares, foram retiradas todas as paredes”, disse. Afonso tentava, na Câmara Municipal do Rio, obter informações sobre a irmã, Kelly da Costa, 28 anos.

Presidente da Comissão de Análise e Prevenção de Acidentes do CREA-RJ (Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura), Luiz Antonio Cosenza também estranha a ausência de paredes e estruturas no 3º andar, como relataram os frequentadores do edifício. “Como era um prédio antigo (construído na década de 50), não havia condição de existir ali um grande vão. Infelizmente, é comum que pedreiros, por exemplo, mexam em vigas para passar tubulações, sem saber que estão comprometendo a segurança de todo um edifício”, disse.

Construções antigas – Especialistas ouvidos pelo site de VEJA explicam que a gravidade do desabamento está relacionada à época da construção dos prédios – entre os anos 1930 e os anos 1950. Não porque o fato de serem antigos signifique que são frágeis. Nos anos 1970, eles passaram incólumes pela construção do metrô, uma obra altamente impactante, que mexe com o nível do lençol freático e poderia ter provocado abalo nos alicerces. A questão central reside nas técnicas de construção e nos materiais utilizados, que fazem das paredes elementos de sustentação fundamentais nas três edificações. Derrubá-las indiscriminadamente equivale ao que seria derrubar os pilares de uma edificação contemporânea. A se confirmar que isso foi feito no terceiro andar do Edifício Liberdade, que suportava o peso de outros 17 pavimentos - significa completa incompetência técnica ou, pior, total irresponsabilidade.

Nos anos 1950, quando foi construído o Liberdade, o uso do concreto armado já era disseminado. Mas as normas técnicas ainda eram incipientes. Em monumentos arquitetônicos da moderna arquitetura brasileira, como o prédio do Ministério da Educação, grandes arquitetos lançavam mão de calculistas geniais que conseguiam sustentar grandes estruturas sobre pilares delgados. No cotidiano de uma cidade que crescia em ritmo acelerado, havia construtores que trabalhavam com alta dose de empirismo, construindo prédios cuja solidez dependia de pilares de concreto mas também, e muito, de grossas paredes de alvenaria, bem diferentes das atuais, que funcionam quase que só como divisórias.

Essa característica estrutural ajuda a explicar por que, ao contrário do que disseram inicialmente os responsáveis pelo resgate das vítimas, não se formaram bolsões de ar sob os escombros. Não havia grandes lajes de concreto sustentadas por pilares que pudessem servir de proteção às vítimas dos desabamentos, e sim estruturas que, ao desmoronar, transformaram-se em uma montanha de entulho.

(Reportagem de Ceília Ritto, Lucila Soares, João Marcello Erthal e Rafael Lemos)

CREA-RJ analisa causas de desabamentos no Centro

Três pessoas morreram, duas ficaram feriadas e 19 estão desaparecidas após o desmoronamento de três prédios por volta das 20h30 desta quarta-feira, dia 25 de janeiro, no centro do Rio de Janeiro. Os dados foram confirmados pela Defesa Civil no início da tarde de hoje, por volta das 14h30 desta quinta. O órgão trabalha com a hipótese de que o acidente tenha sido causado por obras irregulares realizadas no Edifício Liberdade, de 20 andares. Os outros dois prédios teriam desmoronado com o impacto da queda do primeiro. As investigações ainda estão sendo feitas.

Os fiscais e conselheiros do CREA-RJ estiveram no local pela manhã para averiguar a possível relação das causas do desmoronamento com as áreas de abrangência do Conselho. Uma das informações confirmadas, por exemplo, é que nenhuma obra atual no Edifício Liberdade foi registrada no Crea, uma vez que não consta qualquer Anotação de Responsabilidade Técnica (ART).
Em entrevista ao RJTV, o presidente do CREA-RJ, Agostinho Guerreiro, destaca a necessidade de prevenção e manutenção das edificações.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Prédio em São Paulo tem vigas de 44,4 m a 30 m de altura - Piniweb

Divulgação: Brookfield

Obra de edifício comercial em uma das principais avenidas da capital vence
 grande vão  para não interferir em patrimônio tombado

Luciana Tamaki, da revista Téchne


Além do vão de 44,4 m, a altura de 30 m permitem a ligação visual da casa pela avenida Faria Lima

Em uma das principais avenidas de São Paulo, a Brigadeiro Faria Lima, a obra de um novo prédio comercial precisava vencer um desafio: preservar uma casa bandeirista autêntica, sem interferir em sua estrutura ou em sua vista da avenida. A solução desenvolvida para o Brookfield Malzoni  foi construir um dos blocos a 30 m de altura, com 4 vigas de 44,4 m cada uma.

As vigas têm 700 m³ de concreto cada, sustentadas por oito pilares com 30 m de altura acima do nível do solo para os 12 andares de edificação. As vigas são em formato "T", e possuem 6 m de altura. Sob o eixo de cada par de pilares de cada viga foi feita uma outra fundação, como um radier, para suportar a carga.
As duas vigas centrais receberam 24 bainhas de 24 cordoalhas para protensão, enquanto as mais externas receberam 18 bainhas de 24 cordoalhas. O momento de cálculo nas vigas principais é de 60 mil tfm. Depois de concretadas as vigas de 44,4 m, foram feitas vigas de travamento, ortogonais a elas, com 2,50 m de altura.
O concreto usado foi o autoadensável, com 50 MPa. Foi feito um controle tecnológico muito rígido, sendo instalados quatro termopares em cada viga durante o lançamento do concreto e até duas semanas após, para monitorar a temperatura.
Saiba mais detalhes deste projeto e da execução da obra na próxima edição da revista Téchne.

Resumo da obra:
Brookfield Malzoni
Construção: Brookfield
Incorporação: Brookfield / Grupo Victor Malzoni
Projeto de arquitetura: Botti Rubin
Projeto estrutural: Mário Franco (JKMF)
Projeto de fundação: Consultrix
Área do terreno: 20 mil m²
Área da casa bandeirista: 2 mil m²
Comprimento da viga no bloco de transição: 44,4 m
Altura dos pilares no bloco de transição: 30 m
Área das lajes interligadas: 5.200 m²


Divulgação: Brookfield
Foi usado concreto autoadensável de 50 MPa, com intenso monitoramento de
 temperatura durante e por mais duas semanas depois da concretagem

Divulgação: Brookfield
Vigas metálicas e escoramento metálico nos pilares foram descartados por problemas
 de logística e montagem. No final, foi feito escoramento desde o 6º subsolo até a
altura das vigas