Graças ao domínio da técnica de protensão e ao refinamento dos cálculos, a estrutura complexa, dissimétrica, leve e monumental da Cidade das Artes (ex-Cidade da Música) pode ser considerada uma obra-prima de esbeltez
Depois de sete anos de obras e
paralisações, a Cidade das Artes do Rio de Janeiro (ex-Cidade da
Música), um dos mais arrojados empreendimentos públicos destinado à
cultura das últimas décadas no País, será finalmente entregue à
população no próximo mês de outubro. Construído na Barra da Tijuca, no
entroncamento das avenidas Ayrton Senna e das Américas, o complexo
monumental concebido pelo francês Christian de Portzamparc (Prêmio
Pritzke de 1994) para sediar a Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB)
oferece espaços de padrão internacional para audições, tanto de música
sinfônica e ópera, quanto de música de câmara e popular.
A história desse primeiro projeto de Portzamparc no Brasil teve
início em 2002, quando Cesar Maia, então prefeito do Rio, confiou ao
arquiteto a concepção do edifício. A encomenda pública sem concorrência
foi possível graças à experiência reconhecida do arquiteto, já com mais
de 30 projetos musicais em todo o mundo, entre eles o da Cité de La
Musique de La Villette, em Paris, a Filarmônica de Luxemburgo e a Escola
de Dança de Ópera de Nanterre, França.
Desde o início, ficou claro para o arquiteto que o edifício seria um
símbolo público com presença forte no local, e um equipamento de
altíssimo nível técnico, com espaços para audições musicais tão bons
quanto os melhores do mundo. A arquitetura deveria dialogar, sem
competir, com o entorno exuberante, e sua lógica construtiva seria,
necessariamente, adaptada ao Brasil.
O programa estabelecido resultou de uma longa lista de necessidades
definidas pelos músicos e pelo maestro da Orquestra Sinfônica Brasileira
na época, Yeruham Scharovsky, e também por Cesar Maia, que queria uma
sala para concertos sinfônicos adaptável a espetáculos de ópera. Assim,
além da Grande Sala destinada a concertos sinfônicos
e de ópera, o
complexo musical do Rio de Janeiro disporia de sala para música de
câmara/música popular/jazz, para música eletroacústica, camarins; salas
de ensaio; salas para aulas de música; midiateca; depósito de
instrumentos; escritórios da administração da OSB; três cinemas de arte,
além de restaurante, cafés e lojas. No térreo, um parque com espelho
d'água e plantas dos mangues da região abrangeria todo o terreno. E como
a intervenção teria um forte impacto urbanístico na área, foi prevista a
construção de túneis, passagens subterrâneas e vias para integração dos
acessos de pedestres com os meios de transporte público, além de área
de estacionamento para 650 veículos.
Um volume vazado e elevado
O
conceito desenvolvido para o projeto - um terraço no alto, aberto para o
entorno - incorpora elementos representativos da arquitetura moderna
brasileira e surgiu naturalmente nos primeiros estudos. O arquiteto
queria elevar a construção o suficiente para obter sua visibilidade e
destacá-la ao longe. "Se ficasse no solo, o edifício desapareceria no
conjunto", explica o arquiteto. Após vários estudos e incontáveis
esboços e maquetes preparatórias, o projeto finalmente tomou forma e foi
apresentado ao prefeito Cesar Maia em fevereiro de 2003, para
aprovação. O estudo preliminar e o anteprojeto de arquitetura foram
desenvolvidos pelo ACDP (Atelier Christian de Portzamparc), em Paris,
enquanto os projetos básico e executivo foram feitos no Rio, pela equipe
de Luiz Antonio Rangel (L.A. Rangel Arquitetos), sob supervisão dos
arquitetos da ACDP do Brasil Projetos, filial carioca do ateliê
parisiense.
Aberto à paisagem e à circulação do público, livre para as entradas
de ar e luz, o grande belvedere se organiza entre duas imensas lajes com
90 m de largura e 200 m de comprimento - a da esplanada, a 10 m do
solo, e a da cobertura, a 30 m. Entre as lajes, surgem os cinco blocos
independentes, "casulos" de formatos variados e isolados acusticamente,
que abrigam todos os itens do programa. Esses blocos receberam
fechamentos de cascas de concreto protendido, em forma de grandes velas
cilíndricas, com linhas oblíquas, que partem do solo como pilotis. Com
uma abertura no centro, para permitir a circulação do ar, a grande laje
de piso tem sob ela o jardim que envolve toda a área da edificação,
inclusive as estruturas dos pilotis.
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As dimensões monumentais do projeto, e o programa extenso e variado,
exigiram o engajamento de uma legião de operários - cerca de 3 mil nos
momentos de pico -, e equipes de engenheiros e arquitetos com diversas
especializações, como cálculo, estruturas, instalações prediais,
acústica, cênica, luminotécnica, esquadrias, impermeabilização,
transporte vertical, paisagismo e sistema viário.
Como o cálculo estrutural seria crucial para o projeto, Portzamparc
fez questão de que fossem contratados especialistas brasileiros, que têm
experiência comprovada e reconhecida em todo o mundo no uso de concreto
protendido. A equipe escolhida foi a de Carlos Fragelli e Ulysses
Cordeiro, com a consultoria de Bruno Contarini, todos com experiências
em centenas de grandes obras de engenharia e de arquitetura.
RESUMO Obra: Cidade das Artes do Rio de Janeiro Local: Barra da Tijuca, Rio de Janeiro Cliente: Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, Secretaria Municipal de Cultura Área construída total 90 mil m² (edifício 68 mil m²) Área do terreno 95,6 mil m² Início da obra: julho de 2004 Conclusão: outubro de 2011 |
O consórcio construtor (formado pelas construtoras Andrade Gutierrez,
Carioca - Christian Nielsen, Consórcio Cidade da Música e Telem),
convidou, com a anuência dos calculistas, uma terceira empresa para
fazer a verificação independente dos cálculos estruturais. Essa
iniciativa é sempre necessária quando se trata de obra arrojada e de
grande porte, como é o caso da Cidade das Artes. A revisão foi elaborada
com métodos de cálculo diferentes, e resultou em ajustes pontuais.
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