José Roberto Bernasconi, presidente do Sinaenco-SP, defende criação de programas permanentes de manutenção de obrasMauricio Lima | |||
A queda de uma parte do passeio e da mureta de proteção da Ponte dos Remédios, na última quarta-feira (23), Ainda assim, o plano não parece ser suficiente. Segundo o presidente do Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva do Estado de São Paulo (Sinaenco-SP), José Roberto Bernasconi, "a questão é que o Brasil como um todo não tem a cultura da realizar manutenção nas suas obras". "É necessário que se façam programas permanentes de manutenção, para evitar que problemas maiores aconteçam", disse. O Sindicato tem realizado nos últimos anos uma série de estudos em várias capitais do País sobre as condições das obras de infraestrutura e tem repassado aos governos locais as patologias encontradas, com sugestões de melhorias. Confira entrevista com o engenheiro:
Podemos afirmar que os principais problemas com as obras de infraestrutura ocorrem essencialmente por falta de manutenção? Considerando o fato de que o projeto tenha sido bem feito e a construção tenha sido realizada com as melhores práticas, a obra nova estará em boas condições. Será uma obra sadia. A partir daí, ela entra em um processo natural de uso e de deterioração. Aí entram também a questão do mau uso, que acelera o desgaste por fazer uma solicitação não prevista no projeto, e as questões climáticas e atmosféricas. Com isso, você tem um processo de enfraquecimento da estrutura. O único modo de evitar problemas é através do acompanhamento e da manutenção preventiva, para que esses processos não se acelerem e se acentuem. Pode ter sido o caso do incidente ocorrido na Ponte dos Remédios? A manutenção com certeza poderia ter evitado a queda dessa parte da estrutura. O que acontece é que nós aqui no país não temos a cultura da manutenção. Nós valorizamos a obra nova. Sempre se considera bom o administrador público que é um bom realizador, que faz um monte de coisas, mas nunca o que realiza a manutenção. A partir da série de estudos que o Sinaenco já realizou com relação às condições das obras em vários locais, como você avalia a situação das obras de infraestrutura de uma forma geral? Muitas das obras analisadas apresentaram problemas de manutenção. Armaduras expostas, desplacamento, corrosão das armaduras etc. E isso foi detectado em obras visíveis, como pontes. Imagina o que pode ser encontrado nas centenas de galerias pluviais subterrâneas que existem. Em quais cidades a situação é pior? Não é possível medir esses problemas, mas São Paulo e Rio de Janeiro, por serem as duas maiores cidades do país, acabam tendo, em extensão, o maior número de problemas nas obras. Quais tipos de obras de infraestrutura apresentam maiores riscos de segurança pela falta de manutenção? Os principais problemas ocorrem, em grande parte, em pontes e viadutos, até pela complexidade dessas estruturas. Normalmente se encontra maiores problemas nas vias de trânsito. Toda semana sai uma reportagem falando da condição das estradas no país. Mas a estrada está no chão, não tem como cair. Já as pontes e viadutos podem desabar, podendo causar grandes problemas para as pessoas. Por que é tão difícil realizar manutenção de obras? Os impedimentos são mais financeiros ou técnicos? O problema é que o gasto de manutenção é muito alto e tem que ser feito ao longo dos anos. Mas, a importância dada a esses trabalhos no orçamento público é muito pequena, pois não há uma demanda por parte da sociedade para que mais dinheiro seja revertido para a manutenção das obras. Aí, quando se realiza o orçamento, o poder público dá mais atenção para outros fatores. O problema é só do poder público ou privado também? E o setor da construção, poderia minimizar esses problemas de alguma forma? O setor privado só pode atuar quando é contratado pelo próprio poder público. Não tem outro jeito. A carga tributária paga pelas construtoras já é muito grande para que ela aja sozinha para manutenção de obras de infraestrutura. Existe um modo de mitigar os problemas estruturais decorrentes de falta de manutenção? Não. A manutenção é essencial, mesmo que o projeto e a obra tenham sido feitos da melhor forma possível. É necessário que haja um plano pra manutenção. Não adianta esperar cair para depois contratar uma empresa em regime de emergência para arrumar o problema. |
sexta-feira, 25 de novembro de 2011
"Brasil não tem cultura de realizar manutenção em obras", afirma engenheiro - Piniweb
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